terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um assassino merece voz?

Ontem, rolou uma mini-polêmica no Twitter sobre o caso do Guilherme Pádua, assassino de Daniela Perez, filha da autora Glória Perez. O rapaz, que já está livre há algum tempo, por conta de uma liminar que ele conseguiu para cuidar dos filhos, fez um perfil na rede social do Twitter, como todo mundo daqui a pouco (ó, o twitter é a marca da Besta). E ele deu follow na autora Glória Perez. Um desrespeito, você deve pensar! Sim, é um desrespeito, concordo. Mas em tese, a autora tem um perfil público, basta acessar www.twitter.com/gloriafperez. Se ela quisesse escolher quem a seguisse, bastava bloquear e aceitar os fãs que desejar. Correto? Não, não estou sendo advogado do diabo. Tenho tanto asco dele quanto todo o Brasil, mas em tese ele pagou pelo que fez e ele, como qualquer outra pessoa tem os direitos assegurados de ir e vir e no meio do ir e vir, fazer uma página do twitter e seguir quem desejar.
Mas a polêmica não parou por aí. Alguns perfis de celebridades e de portais importantes, como o @ciadosfamosos e @WalcyrCarrasco começaram a fazer campanha para dar unfollow no rapaz, o assassino de Daniela Perez, e denunciá-lo como SPAM. Longe de mim querer defender ele mais uma vez e por mais que tente não consigo imaginar como é a dor de Glória Perez ao ver o caso ser citado, seja na imprensa, seja numa rede-social como o twitter. Entretanto, é preciso agir com cautela em todos os casos e com muita razão. Glória Perez ou qualquer outra pessoa que deseja pode usar das ferramentas que o site propõe, dar unfollow, bloquear, fazer o escambau. Entretanto, acho um pouco exagerado, para não dizer criminoso (o que nos igualaria ao assassino), fazer campanhar do tipo "Denuncie como Spam!". Ei, peraí. Ele é spam? Ele fez alguma ofensa ou algo do tipo? Porque se tivesse ofendido alguém - o que acho que ainda não fez - ele poderia ter sido denunciado e inclusive processado. Mas esse alguém somente poderia ser a pessoa ofendida. A gente, por mais marcante que seja, por mais verdadeiro que seja, ou por mais injustiçadamente que seja a dor, não pode julgar e infringir a lei de alguma forma. E isso para mim é infringir a lei. Ele matou uma pessoa, foi pra cadeia, foi solto (se pagou no tempo certo ou não, não é o válido para se discutir agora, pelo menos ele saiu com o aval da justiça, injustamente, no meu ver, pois deveria estar lá até hoje, como todos os outros assassinos). E solto, ele pode fazer um twitter, como qualquer outra pessoa. E tem o direito de exercer sua liberdade. Sendo um assassino ou não, um psicopata ou não, um fruto da justiça falha do país ou não, não cabe a nós impedir a sua liberdade. Quem tem algo contra ele, que entre na justiça e que a justiça faça algo, não nós. Justiça com as próprias mãos é crime e vergonhoso, em qualquer espécie, em qualquer circunstâncias.
A autora apenas comentou uma vez o fato falando que ele a seguia e não mais falou nada. Fez certo, sensata, como a figura pública que nos passa. Se ela bloqueou ou não, não sei, nem cabe a nós saber. É um direito que ela tem de exercer assim como é o dele de ter condições de frequentar todos os lugares, até porque a cara dele já está marcada por todo o povo brasileiro, isso ele não conseguirá apagar, então que todas as pessoas tenham os mesmos direitos. E não cabe a nós censurar alguém, ou impedir o livre tráfego de idéias, opiniões e palavras soltas. Aceitar esse tipo de atitude é ser tão criminoso quanto um assassino frio e calculista. Ou ainda mais, porque matar opiniões começa assim. Primeiro é ele porque ele é assassino, depois é outro que tem olhos escuros, depois é outro que tem pele escura e é pobre... e depois? Quem será o último a censurar todo o mundo?

3 comentários:

Larissa Reis disse...

"Aceitar esse tipo de atitude é ser tão criminoso quanto um assassino frio e calculista." Muito bem! Nunca gostei dessa idéia de fazer justiça com as próprias mãos. Seja qual for o crime que a pessoa cometeu quem somos nós para jugarmos?
Gostei muito do seu post :D
Não conhecia seu blog *-*

Anônimo disse...

Não tem que discutir censura, porque o cara nem deveria estar solto. Foi solto devido a uma legislação obscena. Aceitar esse tipo de provocação é típico de uma sociedade covarde e leniente com o crime. É fácil discutir liberdade de expressão quando a tragédia acontece com o vizinho.

Gustavo Resende, um foca. disse...

Bem, vou discordar com todas as letras do anônimo, na esperança dele voltar a ler.
1 - como não tem que discutir censura? O que houve foi alguma outra coisa a não ser uma proposta de?
2 - "Impedir" um debate, mesmo que no âmbito leigo já é quase uma censura por si só.
3 - Eu realmente concordo com vc sobre o fato dele nao deveria estar solto, entretando, nao discuto no texto o fato de nossa justiça ser falha. Pelo contrário, insisto que devemos combater, forçando a justiça ser mais eficaz, não fazendo justiça com as próprias mãos.
4 - Concordo sobre a tragédia do vizinho, ela nos parece palpável e super digerível para nós. Mas onde que a vingança ou retaliação em qualquer espécie ajuda na tragédia do vizinho? Boicotar a participação de uma pessoa no twitter vai mudar alguma coisa no fato da tragédia do vizinho? (Se ainda fosse boicotar o juiz que concedeu a liberdade para ele, eu até entederia.)
5 - Por que não faz esse debate ficar mais caloroso e não mostra a cara?

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