sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Karmas e D.N.A.

Nunca fui de fazer cara nem alma de arrependido. Acho que tudo vale a pena. Sou do tipo que até os erros valem a pena, senão para a gente não errar mais, para a gente ter ao menos bagagem para dizermos que somos humanos o suficiente, por mais que acho muito incoerente o humano que assume sua humanidade apenas nos erros.
Sou um louco passional, que as frases de um amigo me deixaram aflito uma vez ao me definir muito bem: "mudar-se anualmente, mudar de estilo mensalmente e apaixonar-se semanalmente". E ai de quem não quiser isso para si, estaria mentindo. Palavras dele.
Louco passional que sou, decidi: quero me arrepender! E gritar pelo direito do arrependimento, por mais inútil que seja. Mas quem disse que tudo que precisa existir em nós precisa ser útil? Mais da metade dos nossos sentimentos e suas habilidades são COMPLETAMENTE inúteis para si, e quando não para si, para boa parte do mundo. E quando não para boa parte do mundo, para todos. Acredite nisso, e será bem mais forte!
Arrependo não de quando me abri, mas de quando me fechei. Tanta coisa que se perde quando as portas fecham. Tantas coisas, no plural, aliás. Mas me dou ao experimento. E me arrependo agora de não ter sentido antes e evitado tanta coisa. E não no sentir, porque sentia. Mas no abrir. Sabe aquele pássaro que todas as noites cantava na janela do trabalhador, que cansado da labuta jogava algo para afastar o pássaro? A culpa não era do pássaro, tanto que um dia, sentado na praça, esse mesmo trabalhador cansado, viu o mesmo pássaro cantar e achou o canto lindo, belo e majestoso. Mas não reparou que era o mesmo pássaro que ia todas as noites a sua janela. Quando percebeu que algo lhe faltava, era o pássaro aquela noite. Que não cantava lá com medo de lhe atirarem uma ou duas botinas velhas. O pássaro decidiu voar e cantar para onde o encanto e o canto fosse ser ouvido, cantar errado, cantar certo, cantar. E nada mais ficou no coração do trabalhador com calças sujas e mãos ásperas que a vontade ter aquela pássaro de novo cantando. E nenhum outro pássaro tinha aquela voz e aquela presença de palco que só os canários mais serelepes possuem.
O destino estava traçado. O pássaro um dia voltaria. Era o karma, como aprendera na índia. Mas estava no D.N.A. do homem e do pássaro o desencontro de quereres. O homem não queria canto logo cedo. O pássaro queria cantar a noite toda. Hoje, o homem quer o canto. Não importa a hora, nem se está cansado. A quem diga que o pássaro não demora voltar. A quem diga que o homem não tem bons ouvidos. Até ousou dizer que homem e pássaro numa mesma história é mais do que cabe em uma fábula. Mas as fábulas são assim... Não tem cabimento. O amor também não.
E como toda boa fábula, minha moral da história é sobre esse homem que vos escreve: nem todo erro é errado. E eu não tenho medo de errar...



PARA LER OUVINDO:

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Coxas, sobrecoxas e outros sentimentos crônicos


Um texto sobre amor, paixão ter um título tão absurdo como esse, pode parecer a primeira vista que não há sentido, quando na verdade, o sentido é pela falta do mesmo quando se trata de um sentimento tão confuso e tão pulsante como que os humanóides chamam de paixão.
As vezes, até mesmo muitas vezes, a wikipédia tem mais capacidade para explicar os sentimentos que nós mesmos. A paixão mesmo ela define como: "A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio." Ou seja, explicado o porque da falta de sentido.
Uma crônica sobre o desejo e saudade. Sobre o inferno dantesco de não ter ao mesmo tempo que se tem. A saudade.
Era uma vez um casal que se separou. Não completamente, ainda restaram pedaços pela sala, quarto, cozinha, banheiro e sacada. Não se separaram sentimentalmente, mas fisicamente era impossível estarem juntos. Enquanto o primeiro procurava detalhes acomeditos do que o segundo faria caso estivesse ali. O segundo comia um frango assado de padaria refletindo no dilema mais ético que a humanidade já presenciou: qual pedaço do frango ele gostaria?
Sim, porque pensem bem. Foram tantas dúvidas, perguntas, risadas e pensamentos sobre o futuro, mas pouco se falou sobre o problema de um almoço de domingo caseiro: o frango de padaria! Porque não vão ser hipócrita de dizer que nunca tiveram um problema por causa do bendito frango? Atire a primeira asinha quem nunca chegou por último e abocanhou um pedaço que não lhe fazia votos?
Aquele que pensava no Este, gostava de coxas e sobrecoxas. Tinha P-A-V-O-R do peito e das partes mais secas do frango. E quando veio a pergunta, tão logo veio a resposta. O primeiro gostava de sobrecoxas. Estaria o dilema instaurado? O futuro era cataclismático? Caso houvesse, famintos e glutões que eram, não se contentariam só com uma coxa para todo o almoço de domingo. E teriam aquele restolho de frango sobrando na geladeira durante toda a semana, até estragar ou alguém comer.
Quando deu por si, falava do futuro. Pensava no futuro, que era como certo quanto uma galinha tem duas coxas, duas sobrecoxas, salvos raríssimas exceções, que não chegam a mesa do consumidor, devido ao preconceito dele com deficientes. Futuro assado e vendido, pronto para entrega. Escolhido, do frango mais gordo e vistoso. O futuro era um frango de padaria, que está assando para ser desossado a dois, com farofa e batatas acompanhando. E mesmo que o futuro seja conclusão de brigas homéricas por causa de coxas e sobrecoxas, ou mesmo que sejam preciso comprar dois ou mais frangos só por causa das benditas coxas. E mesmo que o futuro seja não comer frango...
Hoje, ele comeu o frango querendo ter o outro ao seu lado para dividir aquelas duas imensas coxas e sobrecoxas. Era a saudade que fazia parecer o tamanho maior. Esse sentimento crônico.