quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Comédia em pé que deitou.


Lembro que quando fui pela primeira vez a Nova Iorque, eu recebi um panfleto, desses que se entregam na rua, bem convidativo, para um show de StandUp Comedy, aquelas comédias em pé, onde não há cenário, figurino, mas apenas o humorista, o microfone e o público. Apesar de muito desejar, eu não pude ir naquele dia. Mas já na segunda vez, eu tentei achar uma dessas apresentações, mas não consegui, então acabei deixando para lá. Seria um tanto mágico, estar no berço desse tipo de apresentação, que já levou ao estrelato nomes como o de Robin Williams, Billy Crystal, Eddie Murphy e o grande Woody Allen. É o tipo de sensação única, por mais que não se entenda 100% do show, conforme um amigo que foi me falou. Existem muitas piadas internas, sátiras a celebridades ou políticos, coisa que nem é culpa do cursinho de inglês do Sheffield, mas da vivência. E é aí que mora a comédia em pé, no improviso, no atual, na cultura do momento, aquilo que faz graça agora. Tanto que não faria muito sentido ver uma apresentação idêntica a do Woody Allen na década de 60, por mais genial que fosse, se não estivessemos embuídos de todo o contexto que o cercava.
É uma pena que, como tudo que é bom chega tarde, no Brasil, a comédia StandUp chegou há pouco. - Digo chegou, apesar do termo certo seria popularizou-se, pois desde muito tempo grandes humoristas aqui usam esse artifício, sem ao menos saber o nome que se dá. E é uma pena que como tudo no Brasil que se faz sucesso se esgota pelo excesso. Pensar que Sérgio Mallandro, Luana Piovanni e Daniela Cicarelli se aventuraram pelo StandUp é quase um crime aos deuses da era do blues.
Entretanto, a década foi muito ilustre e trouxe diversificação no humor e posso ainda que desastrosamente comparar, dizer que tudo começou em 2001, com o grupo Terça Insana, que fez sucesso em todo o país graças ao DVD e mais tarde o YouTube. Quem não sabe alguns bordões de lá? E ainda, no festival das esquetes (que muito bebe do StandUp) podemos citar Boom! de Jorge Fernando, Cócegas de Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães, entre outros. Algo que só de citar hoje já dá pra ver que a pessoa tem mais de 20 anos, afinal, nada é tão 2004/2005 que isso.
2007, o boom do YouTube. Uma nova era começa, pipocam comediantes StandUp pelo país, todos usando da ferramenta do humor de improviso para fazer graça e sucesso no site mais importante para a atualidade, segundo a revista Times. E ainda veio o StandUp invadindo a TV, com a consagração do Pânico na TV e o lançamento do CQC, fórmula de sucesso comprada da Argentina. Pânico virou sucesso por quadros como Sandálias da Humildade, polêmicas com celebridades e o deboche como arma principal, mas vingou e hoje é bem melhor que antes, apesar de ter algumas coisas desnecessárias, mas é entendível, afinal, falamos de TVAberta+RedeTV+ProgramaçãodeDomingo. Mas dali surgiram alguns grandes nomes que, se bem utilizados, farão sucesso. Na Banderantes, com o CQC, o programa apostou num humor mais refinado, mais politizado, mais sério, mais elite, quase um programa da TV paga, mas que vingou e trouxe também outros grandes nomes. Na TV fechada, poderia citar grandes nomes como o Bruno Mazzeo, que é um dos melhores humoristas da qualidade na minha opinião. Ou Marcelo Adnet, que explodiu, mas logo alcançou o ostracismo, fazendo o mesmo do mesmo em seus 15 minutos. Sua namorada, Dani Calabresa conseguiu feito maior ao lado de Bento Ribeiro no FuroMTV, uma revelação de 2009.
Já em final de 2008 e explodindo em 2009, o Twitter revolucionou a internet, pelo menos no Brasil, no quesito humor. Com 140 caracteres, todo mundo acha que pode fazer humor e todo mundo acha que é engraçado, além de se sentir o verdadeiro Danillo Gentilli virtual. Não é a toa que o fake do Christian Pior fazia (e faz, mas agora como HugoGloss) mais sucesso que o Evandro Santos, criador do personagem. Alguns aproveitaram o espaço da graça e da piada, para se lançar, alguns conseguiram, mas a grande maioria conseguiu um feito: sujar o StandUp brasileiro. Tanto que hoje já é quase insuportável seguir certos comediantes na rede de relacionamentos, é um querendo mais mídia que outro, o que desgastou o gênero, que por ser de um custo baixo de produção, todo mundo pode ser, mas poucos conseguem ser na verdade, pois é preciso tato e inventividade. Falo por mim, hoje não faço questão de ir em nenhum desses shows de StandUp brasileiros, como talvez há um ano eu aceitaria ir numa boa. E isso se deu graças ao excesso, que ao meu ver atrapalhou a carreira de pessoas que poderiam estar eternamente ocupando o espaço que conquistaram. E quem não quer mais pegar carona nessa vida Seinfield, hein? Todo mundo quer ser um CQC, ou um humorista engraçadinho do youtube, fazer uma peça de improviso (e muitas vezes confunde o nonsense com o realmente engraçado) ou ainda ser o convidado engraçadinho que vai ao Jô Soares essa semana falar de política e da Suzana Vieira. E ao meu ver, fazer graça é bem mais que isso, poucos conseguem. Tanto que já não acompanho mais esses programas, que citei, quando quero ver algo, dou um pulo no campo de pesquisa do Youtube e vejo apenas o personagem/humorista que me agrada.
Hoje ainda vi um texto, não sei se ele se inspirou em alguém ou se é próprio, mas o Evandro Santos, em seu blog Ovulando disse que para ser humorista tem que estar a mercê da platéia. Ela é que comanda, se ela ri, está bom. Se ela não ri, a piada foi sem graça. Piada engraçada só para você, não é piada. E tenho dito.

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