quarta-feira, 10 de agosto de 2011

"beijo gay só lá em casa"

Todo mundo sabe (e nada melhor este tema para voltar a publicar aqui no blog) que sou um noveleiro. Mais do que um noveleiro, um aspirante a novelista e pesquisador sobre novelas - quem quiser ler minha monografia sobre o estudo de caso do uso das ferramentas transmídia em uma telenovela brasileira, no caso, Tititi, posso enviar o pdf por e-mail.
Enfim, a telenovela brasileira é um produto cultural de formação e reiteração de valores, gêneros e padrões. Para bom entendedor, essa frase já define bem o que pretendo falar a seguir. Mas antes, vou falar sobre outra coisa.
Não sou militante e nem pretendo sê-lo, embora acho digno quem retira o seu tempo sagrado ou não para ser em qualquer nível. Lutar pelo que acredita é algo a ser admirado por todos. Mas sou preguiçoso no sentido de vestir a camisa, seja lá qual for, seja lá uma que me é de direito e me é de obrigação. Não sou do tipo que vou a rua protestar, em outras palavras. Entretanto, sendo bem grosso e rude, publicar em mural de facebook a sua insatisfação sobre o que aconteceu na novela tem o mesmo sentido que às pessoas que publicavam fotos de crianças morrendo de fome na África em seus álbuns do Orkut: NENHUM. Você não vai fazer outra coisa a não ser cair no lugar comum e clichê de todas as pessoas que acham-se militantes e defensoras de seus direitos e de direitos universais.
Homofobia existe e ninguém pode negar. É preciso um debate intenso sobre isso? CLARO. Mas a que nível de debate é um assunto que todos deveriam repensar. Dar espaço para Bolsonaros, Myrian Rios na TV não é abrir a debate. É fazer piada com o tema! Os direitos dos gays devem ser motivo de militância em todas os espaços e não espaço a pessoas que são contra DIREITOS. Ah, mas isso não é democracia. FODA-SE! Quando a mídia foi democrática nesse Brasil? Ou você, no alto de suas vassouras, acha que a imprensa é democrática? Francamente. E se os lixeiros, garis e etc não tem espaço, porque homofóbicos terão?
Agora, falando da novela. Um assunto que eu conheço. Beijo gay é censurado na Globo, ponto. Mas sério que o beijo gay é tão importante assim? (Ok, se eu fosse autor de alguma novela, eu boicotaria o beijo hétero até o momento em que o beijo gay fosse autorizado) Mas, de verdade, um beijo modifica uma mentalidade TÃO ASSIM? Acredito que poucos são os brasileiros que nunca viram, nem que seja em foto, um casal de lésbicas ou gays se beijando (vale ressaltar que eu conto como brasileiros a classe C, infelizmente, como os institutos de pesquisas). E eles continuam homofóbicos.
O beijo gay virou um comércio e os gays não percebem isso. Algumas emissoras querem fazer primeiro e ponto. Outros autores brigam para fazer. Outros já desistiram, como Aguinaldo Silva, autor da próxima novela, em entrevista que fez a declaração que serve de título desse post. Agora, o que me faz perder a paciência e bocejar de preguiça é ver esse bando de gente que deveria estar fazendo sua parte, reproduzindo um eco de um debate desfocado ao publicar frases como "A Rede Globo proíbe beijo gay, mas autoriza violência". Sério? Vocês acham que um casal gay beijando ia acabar com a homofobia no Brasil? Eu acho que o mérito de Gilberto Braga e Ricardo Linhares está TOTALMENTE em ter levantado o debate da forma como deveria ter sido desde o começo dessa novela. Nunca numa novela o assunto foi tão bem tratado e tratado com TANTO destaque. Quem viu a novela sabe do que estou falando. Então, por favor, não venha com esses lero-leros tão conservadores e oitentistas quanto os da direita, porque né? É tão bonito ser inteligente, quando na verdade reproduz a burrice sem questionamento. Parabéns, estou muito orgulhoso de vocês. (Ironia, para quem não entender)
Agora vamos ao outro ponto. Não acho que a morte do gay foi para coibir a Globo sobre a proibição do casal gay. Não, não foi mesmo. Sendo assim, a Globo também proibiria tais cenas. Agora, pensar a mídia como um agente transformador é complicado, quando ela entrou em um aparato industrial (leiam os clássicos teóricos da comunicação). Agente transformador, ela é. Poder ela tem. Mas ela não fará se estiver interesses econômicos no meio, óbvio. Então façamos as nossas partes, enquanto a sociedade e a televisão, conservadoras como só, andam a passos lentos. Enquanto isso, critiquem com a menor noção da crítica e com opinião e não reprodução de celeumas. Ou então, gritem em praça pública o seu repúdio e aquilo em que acreditem. Mas antes, acreditem naquilo com coerência.
É óbvio que eu adoraria ver o beijo gay na novela, mas acho que o debate da homofobia e da criação da lei de penalização foi, ao meu ver, muito mais importante e contribui muito mais para a nossa sociedade e marca os núcleos dos gays da novela na história dos militantes LGBT. E reafirmo: nunca antes uma novela ousou tanto e rompeu barreiras conservadoras. Pena que vocês não viram isso acontecer porque estavam criticando o óbvio: Globo só pensa em dinheiro, sociedade conservadora, boicote e blá-blá-blá. Ai, como vocês são óbvios! Fico só me imaginando se existisse facebook na época de Torre de Babel, quando Leila e Rafaela morreram na explosão do shopping, porque a emissora mandou cortá-las por causa de audiência. Eu já teria deletado minha conta!


(ps: Façam uma pesquisa, como dever de casa, e vejam se os impactos das cenas de homofobia, inclusive da morte do personagem, foram positivos ou negativos para a causa e publique no seu mural.)

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